21/04/08

O rei vai nu

A campanha do comité olimpico alemão merece registo.

Teco
Toma cuidado.

Fefa
Corre mulher, tu corre... eu já sou um caso perdido.


Tropeços do cavalo

Fala-se muito em neoliberalismo pa­ra definir o novo caráter do capita­lis­mo. O que significa isso? A essência do capitalismo é a progressiva acumu­la­ção do capital em mãos privadas. Os bens já não têm valor de uso; têm valor de troca. Não são para se viver; são para se vender. No capitalismo, o di­nheiro – essa abstração que represen­ta valor – está acima dos direitos e das necessidades das pessoas. Como observa Houtart, após a Se­gunda Guerra Mundial três fatores puxaram as rédeas do cavalo de corri­da chamado capitalismo: o fortaleci­men­to do movimento operário e o medo da expansão do comunismo, que fize­ram com que os Estados burgueses re­gulassem os direitos trabalhistas; a im­plantação do socialismo no Leste euro­peu; e o projeto de desenvolvimento na­cional em países pobres como o Bra­sil (conferência de Bandung, Indonésia, 1955).Esses três fatores eram a pedra no casco do sistema capitalista que, por força deles, se viu obrigado a reduzir seu nível de acumulação e sua liber­da­de de apropriar-se de tudo que possa gerar riqueza.

O cavalo reagiu. Deu um coice na re­gulação do trabalho, lesando os di­rei­tos dos operários sob os eufemismos deflexibilização, terceirização etc., des­mobilizando o movimento sindical e au­mentando consideravelmente o índice de trabalhadores informais e o desem­prego, agravados pela crescente infor­ma­tização da economia. O segundo coice foi no socialismo, com a derrubada do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, acrescido da cooptação da China. O terceiro, a globo-colonização, a internacionalização da economia e a imposição ao planeta de um único mo­de­lo desociedade, o anglo-saxónico, que predomina na zona rica do planeta.

Eis o neoliberalismo: livre de ré­deas e de freios, o cavalo corria desa­ba­lado na pista da acumulação. Sempre acontece, como sabemos que que a vida é feita de impre­vis­tos. O sistema carrega em si as suas pró­prias contradições. Como apontou Marx,(meu querido Marx) ele é o seu próprio coveiro. E, ago­ra, o cavalo vê-se obrigado a desa­celerar sua corrida por força da crise ecológica (o aquecimento global), da crise de superprodução(há mais oferta que demanda de produtos) e da atual crise financeira que exaure os bancos dos EUA, faz mais de 1milhão de pes­so­as verem evaporar seu sonho de ca­sa própria, e provoca, em apenas um mês, o desemprego de maisde 35 mil bancários americanos.

Os governos dos países capitalistas vivem a queixar-se de que o déficit pú­blico é alto e eles não têm dinheiro pa­ra o essencial: alimentação, saúde e educação etc. Porém, na hora em que o cavalo tropeça, o dinheiro ime­diatamenteaparece para socorrê-lo. Bush libertou 145 mil milhões de dólares para tentar evitara recessão norte-americana, e os Bancos Centrais do mundo rico tratam de disponibilizar seus balões de oxigénio financeiro aos bancos asfixiados pela crise ou em ago­nia diante de um mercado inadim­plente.Ora, não viviam a conclamar que o mer­cado é o melhor regulador da eco­nomia?

Não viviam apregoando: me­nos Estado e mais mercado”?
Por que agora todos correm aos braços acolhedores do Estado de bem-estar financeiro? E de onde veio toda essa fortuna antes negada aos direitos soci­ais,ao socorro da África, ao cumpri­men­to das Metas do Milênio?A recente reunião de Davos, clube que aglutina os donos do dinheiro, foi como um conclave de cardeais que, de súbito,descobrem que Deus não exis­te. Eis abalada a fé no mercado. Se ele trouxe tantas bênçãos aos eleitos da fortuna, agora ameaça com maldi­ções.O curioso é que a origem do pro­ble­ma não é mundial. É local, nos EUA. Como toda a economia mundial se atrelou à hegemonia unipolar de Wall Street, se este espirra, o mundo tem gripe. Resta esperar para conferir se a gripe é passageira, curável com um anal­gésico, ou levará o doente à cama, acometido por febres e infecções.O que ninguém duvida, entretanto, é que, mais uma vez, aconta de tantos tropeços do cavalo será paga pelos pobres.

Assim funciona o sistema que promete – liberdade, prosperidade e paz para todos - e não cumpre. Há que buscar um outro mundo possível. LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE?


Patapata (quem dança com quem)
Domingo no meio de um feriadão. Pela primeira vez fui à barraca da Aruba. Na verdade não se trata de uma barraca, mas de três barracas de praia lado a lado. As barracas são frequentadas pelo público do vício florentino ou italiano, como Luís XIV gostava de lhe chamar. São na areia da Praia e quando o sol se põe, a música sobre de tom e dança-se como se fosse uma discoteca em plena praia ao ar livre. Como a entrada é absolutamente grautuita, porque o acesso às praias no Brasil é livre, a categorização social das barracas faz-se pelo preço e marca da cerveja. Assim, na primeira barraca está o povo favelado, a cerveja é skoll, e custa dois reais cada. A música eleita é o pagode e o Creo... Imperam aí as cabeleireiras, os riscos nos olhos, os travestis e os negões malhados que dançam pagodão.
Na segunda barraca mesmo ao lado, toca-se Axé, Britney Spears e nada de pagode. As roupas são um pouco mais sofisticadas. Tem o universo das escriturárias, estudantes de Liceu e povo dos subúrbios de Salvador que trabalha em telemarketing e já tem dinheiro para beber SKIN a 3 reais. A dança é muito compactada e sensual.
Na terceira barraca imperam os calções e sandálias Osklen, as Lacostes, ouve-se Madona, Mariah Carey, há um sistema de luzes ainda que imberbe e a fauna é composta por filhinhos de papai estudando em liceus e colégios caros,onde a propina normalmente significa aproveitamento. As outras barracas chamam a esta terceira a Zona Sul (chic). A cerveja é Bohemia a 4 reais. Como sou gringo tenho o privilégio de viajar entre a Zona sul e o Creuzão preferindo indefectivelmente o último. Dancei até não poder mais, bebi duas cervejas e paquerei.
Fiquei surdo. A dificuldade é que como as barracas são muito juntas, a música confunde-me. Já momentos em que se ouve: "Rala a tcheca no chão, gimme gimme gimme, uvas no céu da sua boca."

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