30/04/08

Revolução

Tenho andado por estes dias a pensar que sentido faz hoje o 25 de Abril, aliado a um momento muito especial da minha vida em que a forma como estou habituado a viver se alterou de forma radical por força da Bahia-de-Todos-os-Santos. Não há 25 de Abril ou a Revolução sem que se corte a cabeça ao Império do Deus Dinheiro, em lugar de ir a correr negociar com ele no dia seguinte à Insurreição, e que parta a espinha ao Grande Poder e à Grande Religião, em lugar de ir a correr ocupar os respectivos trono e altar. Não há Revolução a sério, enquanto não se não for capaz de fazer isto. Esta constatação soa a loucura e a utopia. Alegra-me o íntimo da consciência: só quem escolher ser pobre e permanecer pobre a vida inteira e entre desarmado neste combate, nesta Insurreição-Revolução, é que poderá levar por diante um Abril assim, uma Revolução assim. Esta é a via de se fazer revolução, a interior e a que mudará os outros.
A vida não está fácil.

Está noite na floresta

Hoje preferia ter um cinto de segurança do que o balanço do mar.


ET UNAM SANCTA CATHOLICA ET APOSTOLICAM ECCLESIA
dedicado em especial a MJC

O arcebispo de Saragoça abriu as portas do templo Pilar a directores do banco Santander, no passado dia 18, para que estes pudessem beijar a "Virgem" do local. Esta "honra" seria já caso para notícia, uma vez que a mesma costuma estar reservada ao clero, família real e crianças que ainda não comungaram. Mas pronto, um banqueiro é um banqueiro, também pode entrar no clube.Mas o mais divertido é que além do templo ter sido decorado de vermelho, a cor do banco, Emilio Botín, presidente da instituição na foto acima, ofereceu um novo manto à estatueta venerada, com um belíssimo logótipo bordado. Tudo abençoado pelo arcebispado da terra, claro. Nunca ficou tão claro o que move a igreja. Da minha parte só aplausos, o acto revela uma transparência e frontalidade raras quer na banca, quer na igreja. E só posso esperar que o gesto ganhe adeptos também por cá. Parece que já estou a ver a placa, "Santuário de Fátima - Millenium BCP". Ou melhor ainda, crucifixos com o centauro do Banif!

29/04/08

28/04/08

Inquisito

Amanhã, dia 22 de Abril, será inaugurado no Largo de São Domingos, o Memorial às Vítimas da Intolerância em Lisboa. Por iniciativa de Sá Fernandes apoiada pelo PS e pelo movimento “Cidadãos por Lisboa”. A 19, 20 e 21 de Abril de 1506 foram barbaramente assassinados e queimados cerca de dois mil judeus em Lisboa. Os acontecimentos tiveram início junto ao Convento de São Domingos e culminaram em duas enormes fogueiras, no Rossio e na Ribeira.

É muito importante que se diga que a História da Inquisição está muito longe de estar terminada. Há milhares de documentos, rol, por ler em enormes caixas e maços na Torre do Tombo e terras tão longínquas como na Bahia.
Neste momento houve ainda o IIIº congresso de história da inquisição, por isso a produção científica ainda é pouca para ajuizar as implicações totais deste processo.
O trabalho que me parece mais interessante, ainda hoje, para aqueles que não querem repetir o que diz a voz mediática e muitas vezes pouco fundamentada, é a «História da Inquisição», de António José Saraiva.

Se racionalizares, apanhas o primeiro avião para Lisboa

Houve festa de Gomgombira no Terreiro de São Jorge seguido de presente para Dandalunda. Foi Lindo. Preferi o Domingo porque é sempre mais íntimo. Não basta amar um Terreiro de forma exarcebada. Tem de se procurar as respostas e essas só os búzios. Estela de Oxossi tinha razão.


Hoje estou assim por isso fiquem longe. O Átila também está, por isso comeu o cão do vizinho... enfim os problemas aqui no Brasil são aos montes e diários... mas é assim mesmo «e tudo vai dar certo...» (uma das minhas frases favoritas).

26/04/08

O povo saiu à rua

Este post é dedicado aqueles que me ensinaram a compreender a tragédia da ditadura portuguesa e amar a liberdade e a democracia: João Cravinho, José Luis Judas, Maria José Campos, José Lagarto Alves, Senhor Cavaco, Frei Eugénio Boléo,Tio Henrique Gaspar.




















Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos.
Foi o tempo que doía com seus riscos e seus danos.
Foi a noite e foi o dia na esperança de um só dia.
Manuel Alegre


Hoje parece ridícula, mas matem lá saudades desta querida.
http://br.youtube.com/watch?v=9v15fr7Wfek


Diário do 25 de Abril


Otelo Saraiva de Carvalho por volta das 22 horas do dia 24/4/1974 fardado com blusão de cabedal chega ao Regimento de Engenharia Nº1, na Pontinha. É ali que o major acompanhado de outros oficiais: Os tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Lopes Pires, o comandante Victor Crespo, os majores Sanches Osório e José Maria Azevedo, o capitão Luís de Macedo… Ali instalam o posto de comando num pequeno anexo com as janelas tapadas por alguns cobertores, sobre a mesa uns papéis manuscritos e um mapa de estradas do Automóvel Clube de Portugal edição de 1973 que fazia de carta operacional com os esboços das movimentações, sendo a base do “plano geral das operações” que se dividia em duas zonas; Zona Norte que começava no eixo a sul do Porto e Lamego para norte. Zona Sul desse eixo para sul, dividido em quatro sectores; Sector Norte, até a sul de Coimbra, Sector Centro até norte de Santarém, Sector Sul daí para sul, Sector Lisboa que também incluía Santarém. Dali do Posto de Comando com o nome de código «Óscar» dão o conhecimento da situação e as instruções às unidades militares de todo o país envolvidas nas operações. O primeiro sinal como combinado seria dado pelo então posto “Emissores Associados de Lisboa” às 22:55. João Paulo Dinis era lá locutor e fizera a tropa em Bissau sob as ordens de Otelo, daí a escolha de Otelo. E cabe a Dinis às 22:55 dar voz e escolher a canção « E Depois do Adeus », de Paulo de Carvalho, canção vencedora desse ano do Festival da Canção RTP e que iria a alguns dias representar Portugal no Festival da Eurovisão. A segunda senha é dada na “Rádio Renascença”. Otelo fazia ponto de honra que fosse uma canção do Zeca Afonso e estava indeciso entre «Venham Mais Cinco» e «Trás Outro Amigo Também» eram as suas preferidas mas logo os seus camaradas fizeram notar que seriam canções muito obvias e que iriam suscitar desconfiança. Foi assim que o jornalista Carlos Albino sugeriu «Grândola Vila Morena» e é esta que acaba por ir para o ar no programa «Limite» de Paulo Coelho e Leite de Vasconcelos que antes de pôr o disco recita a primeira quadra de «Grândola Vila Morena». São 0:20 e grande parte das forças envolvidas põe-se em movimento. O Quartel-General da Região Militar de Lisboa é o centro nevrálgico das “Forças do Regime”. O edifício é tomado pelo Batalhão de Caçadores 5 com o código «Canadá». A mesma unidade também se encarrega de proteger a residência do general António de Spínola, o general Francisco Costa Gomes não foi alvo de protecção porque não dormiu em casa. Importante é também o aeroporto da Portela, operação com o código «Nova Iorque» que fica encarregue à Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra que às portas de Lisboa a coluna militar perde-se nas ruas e becos escuros de Camarate. Junto ao aeroporto o capitão Costa Martins esperava a coluna da EPI e desesperava e decide neutralizar sozinho de pistola em punho a guarda do aeroporto e entrou mesmo na torre de controle fazendo «bluff» durante mais duma hora dizendo que o aeroporto estava cercado e para se interditar o espaço aéreo português imediatamente. A EPI chegada toma de imediato conta do aeroporto e ainda neutraliza o Regimento de Artilharia Ligeira 1 em Lisboa junto ao aeroporto. A Escola Prática de Transmissões fazia as escutas telefónicas militares das forças do regime que depois transmitia ao Posto de Comando. O Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz vem a Lisboa com a missão de controlar a Ponte Sobre o Tejo, tomando posições do lado sul do Tejo (Pragal). Enquanto nas colinas adjacentes à ponte de ambos os lados a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas toma posições apontando baterias junto ao Cristo Rei, para o Terreiro do Paço e Monsanto. A mesma unidade depois vai lá baixo à Trafaria libertar os militares que tentaram a 16 de Março o “golpe das Caldas da Rainha” e que se encontravam presos na Casa de Reclusão da Trafaria. Os órgãos de comunicação social também eram de crucial importância controla-los. Para isso coube à RTP (única emissora televisiva da época) ser tomada pela então, Escola Prática de Administração Militar, (operação; código Mónaco) já que se situava na mesma rua, (Alameda das Linhas de Torres em Lisboa). A antiga Emissora Nacional, actual RDP na rua do Quelhas foi tomada com meios limitados pelos capitães Oliveira Pimentel e Frederico de Morais mais 40 praças de especialidades diversas do Campo de Tiro da Serra da Carregueira. Na rua Sampaio Pina à porta do Rádio Clube Português estão estacionados homens do BC5 dali perto (Campolide) chefiados pelo capitão Santos Coelho e pelo Major Costa Neves da Força Aérea o qual no momento da tomada do RCP é questionado pelo porteiro; se não podiam aparecer após as 9 horas da manhã, que sempre já lá estaria mais gente para os receber!!! Costa Neves e seus camaradas forçam a entrada e é esse o posto escolhido para emissor do MFA. Como previram que as forças do regime pudessem cortar as ligações às antenas do RCP do Porto Alto, tal como vieram a tentar, então a guarda das antenas ficaram a cargo da Escola Prática de Engenharia, de Tancos que também controlou a ponte de Vila Franca de Xira e a casa da moeda em Lisboa. Então através do RCP o MFA apresenta-se ao país pela 1ª vez às 4:26 (estava previsto ser às 4 horas mas o engano de percurso da EPI em Camarate atrasou o comunicado) a voz é do jornalista Joaquim Furtado: «Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas...». A programação é alterada e passa o hino nacional, marchas militares e canções de protesto e de contestação. Sucedem-se os comunicados escritos por Victor Alves e Lopes Pires no quartel da Pontinha, que eram lidos aos microfones do RCP. Mediante esta situação os ouvintes ficam a par do desenrolar dos acontecimentos. Mas a missão principal cabe ao capitão Salgueiro Maia e seus homens da Escola Prática de Cavalaria, vindos de Santarém ficam-lhes encarregues várias acções desde de “despiste” ou seja; chamar a atenção das forças fiéis ao regime através dum itinerário ostentatório no sentido de dispersar as capacidades inimigas. E ainda de controlar o Banco de Portugal, a Rádio Marconi e o Terreiro do Paço. Ali, o ministro do Exército, general Andrade e Silva perante a situação manda abrir à picareta um buraco na parede do gabinete por onde foge mais os ministros da Marinha, da Defesa e do Interior acompanhados de militares de altas patentes. Antes do golpe a Marinha e a Força Aérea haviam sido contactadas para aderirem mas garantiram a neutralidade. Mas o capitão-de-fragata Seixas Louçã que comandava a fragata «Almirante Gago Coutinho» integrada na NATO e com grande poder de fogo, resolve, ameaçar disparar sobre o Terreiro do Paço. Ao que é posta ao corrente das baterias de artilharia, já prontas a disparar, posicionadas nas colinas junto ao Cristo Rei. A tripulação ao saber rebela-se e ao fim da manhã a fragata retira-se e vai fundear-se no Alfeite. Momento importante, quando a coluna EPC é interceptada na Avenida Ribeira das Naus por tropas fieis ao regime comandadas pelos brigadeiro Junqueira dos Reis e o tenente-coronel Ferrand d’Almeida, com tanques Patton M47. É o próprio Salgueiro Maia que vai tentar dialogar, saindo a pé e de lenço branco na mão hasteado e uma granada escondida na outra, ao que o brigadeiro dá ordens para disparar sobre o capitão mas que ninguém obedece! E depois mesmo alguns tanques de Cavalaria 7 passam-se para o lado de Salgueiro Maia. Outro momento muito importante dá-se às 5 horas quando o Major Silva Pais director-geral da PIDE/DGS dá conhecimento ao presidente do Conselho (função que equivale actualmente à de primeiro-ministro), Marcello Caetano dos acontecimentos que este ainda desconhecia. Referindo que a situação era grave e dando instruções para se refugiar o mais depressa possível no Comando-Geral da GNR no Largo do Carmo porque era um dos sítios que não se encontrava sitiado e que passava mais despercebido. Mas que veio a revelar-se uma grande armadilha! Primeiro porque soube-se da sua entrada no Quartel do Carmo às 6 horas, ao que o major Otelo deu ordens para Salgueiro Maia se dirigir para o Largo do Carmo e sitiar completamente o quartel para que não houvesse fugas pelas traseiras. Na ida da coluna de Salgueiro Maia para o Largo do Carmo, uma companhia do RI 1 comandada pelo capitão Fernandes tenta bloquear a passagem mas após curto diálogo, passam-se para o lado dos revoltosos. Embora em telefonemas mais tarde tentassem convencer Otelo que Caetano não se encontrava lá mas Otelo sabia que era para as forças do regime ganharem tempo. E segundo porque quando as individualidades mais importantes ligadas ao regime foram socorridas pelo ar, por um helicópetero como no caso do Regimento de Lanceiros 2, esse mesmo helicópetero tentou ajudar a fuga de Marcello Caetano, só que não havia sítio para o helicópetero aterrar e por isso Marcello Caetano receoso permaneceu encurralado no Quartel do Carmo com blindados apontados e ouvindo uma multidão crescente que tinha acordado dum sono profundo ou que tinha aprendido ou descoberto nesse dia que existiam outras coisas como democracia e liberdade… E gritavam: Por vingança e palavras de ordem contra a ditadura e guerra colonial e outras coisas. Salgueiro Maia depois terá mesmo pedido calma ao povo de megafone em punho. Mesmo que o regime não caísse as coisas já não seriam mais como antes, o povo nesse dia tinha ouvido coisas novas e ficou a saber em que tipo de regime e que tipo de politicos governavam o país por isso aderiram de imediato ao Movimento das Forças Armadas! O tempo passava a GNR não reagia numa tentativa de ganhar tempo. Maia dá um ultimato à GNR mas nada! No Posto de Comando desesperavam e Otelo envia um bilhete escrito a Maia: «Com metralhadoras rebenta com as fechaduras do portão, que é para saberem que é a sério!» Ás 15:10 são dados 10 minutos. (Temia-se que um helicópetero afecto às Forças do Regime podesse largar uma bomba sobre as forças revoltosas no Largo do Carmo). Após o prazo esgotado, às 15:25 as metralhadoras duma viatura chaimite disparam contra a frontaria do quartel. Como não houvera reacção da parte do quartel, passado algum tempo um blindado toma posição de canhão apontado e é nesse momento que surgem dois civis: Pedro Feytor Pinto e Nuno Távora, quadros da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, medianeiros entre Spínola e Caetano, este último melindrado com a situação dizia: «Não quero que o poder cai na rua». Feytor Pinto telefona a Otelo que em nome do MFA, mandata o general Spínola para receber a rendição de Caetano. Às 18 horas, chega Spínola de automóvel com farda Nº 1. Caetano submete-se e entrega a Spínola o poder e pede protecção. Spínola transmite a Caetano a intenção do MFA de o enviar para o Funchal. (Iria partir para o Funchal no dia seguinte pelas 7horas, a ele juntaram-lhe também entre outros o Presidente da Republica Almirante Américo Tomás que durante a longa noite da revolução não deu sinal de vida, como se não fosse nada com ele, passou o dia na sua casa no Restelo, saindo sobre escolta para o aeroporto). E assim às 19:30 sai do quartel o chaimite «Bula», no interior vão Marcello Caetano e António Spínola em direcção à Pontinha, por entre uma multidão eufórica que celebra a “Liberdade” com cravos vermelhos. Às 19:50 é emitido o comunicado: «O Posto de Comando do MFA informa que se concretizou a queda do Governo, tendo Sua Excelência o Professor Marcello Caetano apresentado a sua rendição incondicional a sua Excelência o General António de Spínola». Logo após as 20 horas é lida no RCP a «Proclamação do Movimento das Forças Armadas». E à 1:30 já do dia 26/4/74 aparecem na televisão as novas caras do poder: A Junta de Salvação Nacional, como presidente, António de Spínola, em que lê uma proclamação ao país: …Um novo regime… A democracia, a paz.


Um 25 com 7
Era criança no tempo da ditadura. Lembro-me bem do Alentejo feudal e do sofrimento das pessoas e sobretudo estranhava que alguns comentários tivessem que ser feitos em voz baixa, olhando por cima do ombro.
Lembro-me da dona Laurinha, vizinha de minha mãe, amante do Major Silva Pais, chefe da polícia política e de como todos a temiam e se esforçavam por lhe agradar.
Lembro-me do senhor Cavaco, constantemente levado pela Pide, deixando em casa os filhos sozinhos durante meses.
Lembro-me da confusão que isso me fazia, porque todos na rua afirmavam que não era ladrão, e que na minha inocência só ladrões iam presos.
Lembro-me de uns versos que cantava irritar a minha mãe: «Gertrudes no beliche e o resto que se lixe.» Ela replicava que me calasse porque o pai podia ir preso.
Lembro-me de saber na mercearia do sr. Manuel que o Paulo de Carvalho ia ganhar o Festival da Canção ainda antes de a ter cantado.
Lembro-me do Tio Teodoro com os demais alentejanos virem a Lisboa á revista à portuguesa e jantarem no Ribadouro,comentando ou trauteando as piadas politicas.
Lembro-me do Cardeal Cerejeira se ter recusado a receber a prima Inglantina que o cumulava de dinheiro,e que temendo a tuberculose do filho lhe pediu de joelhos, á porta do paço que o mudassem para a Cadeia de Caxias.
Lembro-me da minha mãe chorar quando no dia 26 de Abril os portões de Caxias se abriram e todos os presos políticos saiaram,incluindo o senhor Cavaco abraçando a multidão, e a minha mãe ter decidido ir vender cartazes do 25 de Abril nessa noite no Mercado do Povo,sem soutien.
Lembro-me da euforia do primeiro, 1º de MAIO e de como fomos os dois sozinhos porque a minha mãe queria ver tudo.
Lembro-me das marchas do MFA, da GAIVOTA e da GRÂNDOLA VILA MORENA repetida vezes sem conta.
Lembro-me de ficar emocionado anos mais tarde, no Palácio, e de ter agradecido ao Marechal Costa Gomes, o que fez pela Liberdade.

Lembro-me de me fascinar com a rectidão do Marechal Eanes em casa do Almirante Rocha,
Lembro-me, já assessor de imprensa do Palácio Penafiel, de ter prepararado uma fuga de informação quando o Juiz do Tribunal Plenário que condenou Crisostomo Teixeira, se preparava para concorrer ao Supremo Tribunal de Justiça, o que abortou a tentiva.
Lembro-me do Alentejo todo ao avesso e de tudo se ter transformado..


Hoje sou filho de um país livre
Sou Homosexual, Maçon, Socialista, Marxista e respeito a Liberdade. Esforço-me todos os dias por reconhecer a todos os que me rodeiam estes mesmos direitos: Liberdade, Igualdade, Farternidade.


25 de Abril sempre,
porque ninguém poderá fechar as portas que Abril abriu.

24/04/08

In spirito anima exultat

JLJ
Está na Bhaia. É um prazer falar com ele. Disse-me que o Abramovic tinha 400.000 contos de lucros declarados por mês.
- Será feliz? - perguntei eu. Respondeu calmamente:
- Cada um é feliz ao seu modo. Há gente que se realiza na profissão, outros missionários... enfim. Nem sempre é o dinheiro. Isso é uma miragem capitalista... em que todos, ou quase todos sempre caímos.
A Bahia tem-me ensinado muito e hoje, pela primeira vez em muitos anos, de manhã, agradeci estar vivo e ter uma vida porreira. Um dia chego lá.


Europa
Sempre que me escrevem de Lisboa falam da depressão, recessão, neurose, infelicidade. Penso amiúde o que nos terá feito ficar assim. Acho que nós os europeus banimos o transcendental e a espiritualidade das nossas vidas. A moda fez-nos procurar o budismo e outras orientalidades que se subrepusessem ao catolicismo, mas, na verdade, mesmo que viajemos até aos mosteiros tibetanos, pratiquemos o Reiki, o Yoga, não acreditamos em nada. Isso fez toda a diferença e para mim, faz toda a tristeza. In spirito anima exultat.


Facto/Fado

Este quadro do Malhoa que a Tia Lalinha deixou ao Museu do mesmo nome tem uma fotocópia em plástico aqui no restaurante, emoldurado a preceito.

E o fado português, também numa versão guys.


Paulo Cesto
Nova rubrica (COMER)

Hoje estava com vontade de almoçar em Lisboa e fui à Adega da Tia Matilde, nos textos do Lourenço Viegas,

Restaurante apesar do restaurante
A vida pode ser dividida em refeições. Do jantar ao almoço, do almoço ao jantar. Há uma fase em que o jantar é rei. Jantar fora, ir jantar a casa da Teresa, convidar os Paulos para virem cá jantar. É a idade da estupidez, das desoras, dos jantares mais pelas pessoas ou pela bebida do que pela comida. Quando começa a arder a azia, ou se fecham as malhas da família, passa-se do jantar fora ao almoço. Almoçamos um dia destes, no Chiado ou no Marquês. O almoço, mesmo com colegas, ou entre casais, é o ponto de fuga da família, do trabalho. A comida pode ou não ter centralidade. Depois, há alguns dos chamados escolhidos para acederem ao Olimpo da refeição: o jantar à luz do dia, de preferência terminado ao lusco-fusco. Jantar de dia é viver dentro de um quadro do Hopper. A Adega da Tia Matilde fura um pouco aquela tripartição. Um restaurante que se sobrepõe às refeições. É o reino timelessness. Pessoas que almoçam como jantam e jantam como almoçam. Que se demoram, sem se arrastarem, com um arroz de lampreia e babete. Que bebem uma atrás de outras garrafas de branco e de tinto, sem que o álcool entorpeça a deglutição da caldeirada forte e reconfortante. Casais a almoçarar, partilhando travessas – e que gosto dá vê-los, à espanhola, primeiro um cabritinho, ele serve-a, e depois, para terminar, uns filetes saborosos sem serem fritos demais (hei-de reler aquela crónica do Miguel Esteves Cardoso em que, naquele seu jeito de ser melhor que os outros, disserta sobre o problema da justificação na relação dos portugueses com a comida. Que nunca comem nada por comer. É sempre para começar, acabar, amaciar, preparar o estômago...).Começo pelo cocktail de camarão, retro sixties, uma armadilha em que raramente não caio. O da Tia Matilde lá está, vieille cuisine a boa temperatura (às vezes, noutros lados vem quase gelado e com crosta no molho de tanta espera na arca), fresco, voltar a ser criança e a ir ao restaurante ao Porto com a Tia Micas quando o pedaço de camarão encontra o doce do molho. Na Tia Matilde é também de boa nota o marisco. E como é bom mariscar sem ser numa marisqueira. Na lista vem que o cabrito não é cabrito é cordeiro, acto de verdade inédito. Tantas vezes se esquece, ou se quer esquecer por essas ementas afora, que a cabra dá o cabrito (o cabrão, não), a ovelha dá o carneiro (mais velho) e o cordeiro, anho ou borrego (mais novos).A perdiz bem estufada (não sei se selvagem, se de aquário), um cozido reluzente, batatas sempre boas, em pala as da perdiz, bem assadas as do cabrito (que era cordeiro) e macias as do bacalhau, a murro. Empregados eficientes que não dão muita confiança a estranhos, com aquela brusquidão de quem serve muitos doutores que comem o salário em lampreia e o bebem em vinhos caros. Trazem sobremesas catitas, arroz-doce bem amarelinho (amarelo ficava mal), tarte de maçã em camadas, maçãs bem assadas. Depois é acabar o almoço, descer pela escadinha à garagem, entrar no carro e apostar. Estará de dia ou de noite lá fora? A Adega da Tia Matilde é um restaurante de confiança. Apesar do nome. Apesar do local. Apesar de não ter janelas. Apesar da cabeça de touro cornudo com o cachecol da selecção nacional de futebol. Um bom restaurante. Apesar do restaurante.


Casa do Bento
- Está lá Mãezinha.
- Querido! Não ligaste no Domingo. Fiquei preocupada - anunciou ela.
- A mãe também podia ter ligado, também sabe o número.
- Pois podia, mas tu telefonas sempre. Tenho dormido muito mal de noite...
- Sendo eu a telefonar é mais barato - continuou ele ao telefone.
- Oiço muito mal - retorquiu ela. -Tenho dormido muito mal - afirmou de novo como que à espera da pergunta.
- Porquê? - correspondeu ele.
- Ora, é a velhice, estou para a ficar velha.
- Mas se a mãe dorme a sesta depois de almoço, dorme um pedacinho no sofá em frente ao televisor antes de jantar, e ainda dormita ao serão a ver a novela, chega a cama e não tem sono. Parece-me óbvio.
- Deus te proteja de estares sem dormir de noite. É muito mau para a saúde.
- A mãe dorme. Só não dorme de noite, por isso evite fazê-lo de dia.
-Olha sabes que mais? Os jovens agora não têm paciência para conversar com os mais velhos.

22/04/08

Viva a Espanha

E Viva a Espanha! Zapatero por quem ninguém dava nada é um governante moderno, arejado, atento às modificações da sociedade onde vive e corajoso. Cumpriu o que prometeu. Legalizou o casamento homossexual, adopção por famílias gays ou monoparentais, enfrentou a Igreja Católica dando-lhe o peso no Estado que ela realmente deve ter, respeitou as autonomias e a monarquia e constitui um governo em que muitas mulheres são ministras. Chamo a atenção para a Ministra da Defesa, que sendo responsável por um dos sectores mais conservadores e tradicionalistas da Espanha mofada é bonita, está grávida, ostensivamente grávida e passa revista às tropas, Imagine-se no Afeganistão...


Direitos humanos em Angola






Vão encerrar o escritório da Comissão dos Direitos Humanos da ONU em Luanda, mas o crescimento económico tudo vence.
Apesar de o Conselho da UE se afirmar convencido de que a situação dos direitos humanos em Angola está a melhorar, em apenas duas semanas proliferaram notícias preocupantes: acusações de tortura contra as testemunhas do jornalista angolano José Lelo, preso há meses; detenção na República Democrática do Congo de quatro pessoas originárias de Cabinda, com estatuto de refugiados, alegadamente no seguimento de pressões de Luanda; denúncia de um eventual plano de acção do MPLA para lançar uma onda propagandística destinada a denegrir a oposição. Particularmente preocupante foi também o anúncio do próximo encerramento do escritório do Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas em Luanda, por ordens do Governo angolano. Ainda por cima num momento em que Angola é Membro do Conselho dos Direitos Humanos da ONU e em que se preparam as eleições, há vários anos sucessivamente aguardadas e adiadas. Interpelado sobre as alegações de tortura o Ministro do Interior angolano, em recente estadia em Portugal, fez-se desentendido e optou por sublinhar a falta de preocupação dos europeus pelas violações de direitos humanos na Europa e nos EUA, invocando Guantanamo. Como é óbvio, quem em Portugal enfia essa carapuça, nunca se preocupou nem se preocupará com os direitos humanos dos angolanos, nem de ninguém mais.Não é obviamente o meu caso. E por isso aqui deixo registado que considero totalmente inaceitável a reacção do Ministro Roberto Leal Monteiro. Uma reacção que se volta contra o seu Governo, pois só reforça a percepção geral de tem mesmo muito a encobrir na matéria.


Janela da Vitória
Estive com a Zitinha sozinho no Domingo e parte da segunda-feira. Está crescida e aborrescente. Tem duas novas alcunhas: Bolha e Maria Barroso. Bolha porque está sempre oscilando entre estar com a bolha e não estar e Maria Barroso, porque é uma dramática. Como qualquer adolescente é sorumbática está sempre em crise e tudo está contra ela. Nunca se sabe do que gosta. Não quero correr, não gosto de andar, não gosto de nadar. Ler, às vezes, outros dias dançar, enfim... A maior dificuldade é que tudo existe no mundo com o propósito de chateá-la.


Dedicado à MJC
http://www.youtube.com/watch?v=yHyJGiTzWbw


Carros

O brasileiro valoriza acima de tudo o carro que se tem. As mercedes como eles dizem é o topo do topo, não falando que qualquer papalvo que tenha conseguido roubar meia-dúzia de tostões compra de imediato um carro imporrrrrrrrrrrtado, normalmente da marca Audi. Tou fora, mas não perdi a noção. Queridos, no tempo do Império só de Rolls tá?


Miguel Telles da Gama expôs de novo ao fim de algum tempo. Gosto do tema: “Obsessões”. Descendente directo de Vasco da Gama é um tipo simples e catita. Se fosse eu... Jesus!


Há uma grande herança portuguesa no Brasil. No meu Alentejo tudo o que era puta era designado por espanhola. Aqui também existe essa figura mítica sendo que o acto de enfiar um pénis erecto entre as mamas de uma mulher, se chama uma espanhola. Perante a foto aqui agora publicada, proponho que se mude o nome para Alemã.

21/04/08

Segunda, feriado do Tiradentes


1746: Nasce em Pombal, distrito de S. José d’el Rei (hoje Tiradentes), Minas Gerais; Os pais são Domingos da Silva Santos, nascido em Portugal, e Maria Antónia da Encarnação Xavier, nascida na Vila de São José d’el Rei (Brasil). 1755: Morre Maria Antónia; o viúvo e os órfãos mudam-se de vez para a Vila de São José. 1757: Órfão de pai. 1780: Arregimenta-se como soldado. 1781: É promovido a Alferes. 1786: A mando do governador da capitania de Vila Rica, leva brilhantemente a cabo estudos demográficos, geográficos, geológicos, mineralógicos - quer de aplicação civil, quer militar. 1788: Envolve-se na Inconfidência contra a Coroa portuguesa. 1789: Como conspirador, é preso no Rio de Janeiro. 1792: É enforcado em praça pública e depois esquartejado.



A estrela d'alva me acompanha
iluminando o meu caminho
Eu sei que nunca estou sozinho
Pois tem alguém que está pensando em mim
Suite dos pescadores, Dorival Caimy

O rei vai nu

A campanha do comité olimpico alemão merece registo.

Teco
Toma cuidado.

Fefa
Corre mulher, tu corre... eu já sou um caso perdido.


Tropeços do cavalo

Fala-se muito em neoliberalismo pa­ra definir o novo caráter do capita­lis­mo. O que significa isso? A essência do capitalismo é a progressiva acumu­la­ção do capital em mãos privadas. Os bens já não têm valor de uso; têm valor de troca. Não são para se viver; são para se vender. No capitalismo, o di­nheiro – essa abstração que represen­ta valor – está acima dos direitos e das necessidades das pessoas. Como observa Houtart, após a Se­gunda Guerra Mundial três fatores puxaram as rédeas do cavalo de corri­da chamado capitalismo: o fortaleci­men­to do movimento operário e o medo da expansão do comunismo, que fize­ram com que os Estados burgueses re­gulassem os direitos trabalhistas; a im­plantação do socialismo no Leste euro­peu; e o projeto de desenvolvimento na­cional em países pobres como o Bra­sil (conferência de Bandung, Indonésia, 1955).Esses três fatores eram a pedra no casco do sistema capitalista que, por força deles, se viu obrigado a reduzir seu nível de acumulação e sua liber­da­de de apropriar-se de tudo que possa gerar riqueza.

O cavalo reagiu. Deu um coice na re­gulação do trabalho, lesando os di­rei­tos dos operários sob os eufemismos deflexibilização, terceirização etc., des­mobilizando o movimento sindical e au­mentando consideravelmente o índice de trabalhadores informais e o desem­prego, agravados pela crescente infor­ma­tização da economia. O segundo coice foi no socialismo, com a derrubada do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, acrescido da cooptação da China. O terceiro, a globo-colonização, a internacionalização da economia e a imposição ao planeta de um único mo­de­lo desociedade, o anglo-saxónico, que predomina na zona rica do planeta.

Eis o neoliberalismo: livre de ré­deas e de freios, o cavalo corria desa­ba­lado na pista da acumulação. Sempre acontece, como sabemos que que a vida é feita de impre­vis­tos. O sistema carrega em si as suas pró­prias contradições. Como apontou Marx,(meu querido Marx) ele é o seu próprio coveiro. E, ago­ra, o cavalo vê-se obrigado a desa­celerar sua corrida por força da crise ecológica (o aquecimento global), da crise de superprodução(há mais oferta que demanda de produtos) e da atual crise financeira que exaure os bancos dos EUA, faz mais de 1milhão de pes­so­as verem evaporar seu sonho de ca­sa própria, e provoca, em apenas um mês, o desemprego de maisde 35 mil bancários americanos.

Os governos dos países capitalistas vivem a queixar-se de que o déficit pú­blico é alto e eles não têm dinheiro pa­ra o essencial: alimentação, saúde e educação etc. Porém, na hora em que o cavalo tropeça, o dinheiro ime­diatamenteaparece para socorrê-lo. Bush libertou 145 mil milhões de dólares para tentar evitara recessão norte-americana, e os Bancos Centrais do mundo rico tratam de disponibilizar seus balões de oxigénio financeiro aos bancos asfixiados pela crise ou em ago­nia diante de um mercado inadim­plente.Ora, não viviam a conclamar que o mer­cado é o melhor regulador da eco­nomia?

Não viviam apregoando: me­nos Estado e mais mercado”?
Por que agora todos correm aos braços acolhedores do Estado de bem-estar financeiro? E de onde veio toda essa fortuna antes negada aos direitos soci­ais,ao socorro da África, ao cumpri­men­to das Metas do Milênio?A recente reunião de Davos, clube que aglutina os donos do dinheiro, foi como um conclave de cardeais que, de súbito,descobrem que Deus não exis­te. Eis abalada a fé no mercado. Se ele trouxe tantas bênçãos aos eleitos da fortuna, agora ameaça com maldi­ções.O curioso é que a origem do pro­ble­ma não é mundial. É local, nos EUA. Como toda a economia mundial se atrelou à hegemonia unipolar de Wall Street, se este espirra, o mundo tem gripe. Resta esperar para conferir se a gripe é passageira, curável com um anal­gésico, ou levará o doente à cama, acometido por febres e infecções.O que ninguém duvida, entretanto, é que, mais uma vez, aconta de tantos tropeços do cavalo será paga pelos pobres.

Assim funciona o sistema que promete – liberdade, prosperidade e paz para todos - e não cumpre. Há que buscar um outro mundo possível. LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE?


Patapata (quem dança com quem)
Domingo no meio de um feriadão. Pela primeira vez fui à barraca da Aruba. Na verdade não se trata de uma barraca, mas de três barracas de praia lado a lado. As barracas são frequentadas pelo público do vício florentino ou italiano, como Luís XIV gostava de lhe chamar. São na areia da Praia e quando o sol se põe, a música sobre de tom e dança-se como se fosse uma discoteca em plena praia ao ar livre. Como a entrada é absolutamente grautuita, porque o acesso às praias no Brasil é livre, a categorização social das barracas faz-se pelo preço e marca da cerveja. Assim, na primeira barraca está o povo favelado, a cerveja é skoll, e custa dois reais cada. A música eleita é o pagode e o Creo... Imperam aí as cabeleireiras, os riscos nos olhos, os travestis e os negões malhados que dançam pagodão.
Na segunda barraca mesmo ao lado, toca-se Axé, Britney Spears e nada de pagode. As roupas são um pouco mais sofisticadas. Tem o universo das escriturárias, estudantes de Liceu e povo dos subúrbios de Salvador que trabalha em telemarketing e já tem dinheiro para beber SKIN a 3 reais. A dança é muito compactada e sensual.
Na terceira barraca imperam os calções e sandálias Osklen, as Lacostes, ouve-se Madona, Mariah Carey, há um sistema de luzes ainda que imberbe e a fauna é composta por filhinhos de papai estudando em liceus e colégios caros,onde a propina normalmente significa aproveitamento. As outras barracas chamam a esta terceira a Zona Sul (chic). A cerveja é Bohemia a 4 reais. Como sou gringo tenho o privilégio de viajar entre a Zona sul e o Creuzão preferindo indefectivelmente o último. Dancei até não poder mais, bebi duas cervejas e paquerei.
Fiquei surdo. A dificuldade é que como as barracas são muito juntas, a música confunde-me. Já momentos em que se ouve: "Rala a tcheca no chão, gimme gimme gimme, uvas no céu da sua boca."

20/04/08

Domingo

Hoje estava com vontade de esquiar.

19/04/08


A tristeza foi embora.

Sábado de volta do computador e do fogão do bacalhau


Isabel I, a era de oiro
Eu gosto de rainhas e de cortes e de vestidos e coisas assim mas o filme é ruim. Historicamente é uma farsa montada sem qualquer preocupação de rigor, numa despudorada apologia dos ingleses e do seu amor pela liberdade. Filipe de Espanha era católico, mas era um politico e não era nem fraco nem burro.Tinha um projecto não só para Espanha mas para o mundo de então, de quem era a maior potência. A Invencível Armada perdeu nos mares ingleses porque os Galeões eram enormes,verdadeiros palácios flutuantes, com aposentos dignos de seus viajantes e porões enormes. Essa característica tornava-os pesados e difíceis de manobrar sobretudo na viragem o que deu vantagem ás caravelas inglesas mais velozes e por isso mais traiçoeiras e vitoriosas. A juntar a tudo isto o cargo de Almirante da Armada foi dado por inerência ao Duque de Medina - Sidónia, que praticamente nunca tinha entrado num barco. A propósito desta apologia da Inglaterra leiam: "O império à deriva, para verem como eram como piolho em costura de camisa." Não gosto de ver tratado um assunto de forma tão pateticamente hollywoodesca. Amei as roupas.


Amores, comprem e governem-se
Dedicado a dois cavalheiros que conheço, às três, à árvore de natal e às tias do Vasquinho.

POR UM PREÇO DE APENAS R$5,00 VOCÊ LEVA O MANUAL DE MAGIA FEITIÇOS E SIMPATIAS E DE BRINDE VOCÊ LEVA O CURSO "TUDO SOBRE CROMOTERAPIA" DE 400 PÁGINAS MAGIA FEITIÇOS E SIMPATIAS PARA; IMPOTÊNCIA TRAGA SEU MARIDO DE VOLTA FAÇA SEU NAMORADO SER FIEL PARA ESPOSA AMARRAR MARIDO PARA MELHORAR O CASAMENTO PARA CASAR COM NAMORADO PARA MARIDO LARGAR AMANTE PARA VIÚVA ARRANJAR BOM CASAMENTO PARA MULHER IDOSA CONSEGUIR MARIDO PARA TRAZER FELICIDADE NO CASAMENTO PARA RECONCILIAÇÃO DO CASAL PARA PRENDER O NAMORADO (SÓ PRA MULHERES) PARA ARRUMAR CASAMENTO AINDA ESTE ANO (PARA MULHERES) PARA AFASTAR ALGUÉM DO SEU MARIDO OU SUA MULHER.


Casa do Bento
- Está lá? Mãe? - gritou ele.
- Sim sou eu. Não grites que não sou surda.
- A médica mandou-me um email a dizer para a mãezinha não ir ao consultório amanhã, porque não vai poder dar consulta.
- Já sei, disse-me a tua irmã... A tia Leonor caiu e partiu a cabeça. Não pára sossegada - afirmou consternada.
- Levanta-se, areja o quarto e faz a cama rapidamente para depois vir tomar o pequeno-almoço comigo. Como estava atrasada, escorregou no tapete e caiu.
- Então a que horas combinaram no Café? - Perguntou ele curioso.
- Às 7h00. Aquela porcaria só abre às sete.
- Mas para que combinaram tão cedo, iam a algum lado depois? - Retorquiu ele tentando manter o diálogo.
- Não. Mas toda a gente sabe que o pequeno-almoço se toma de manhã cedo.


Zitinha
A mulher da minha vida. Chata que só visto, geniosa, mas a minha filha querida.

Adri
Vai ao encontro da vida e do sonho. Espero que Brasília o envolva e lhe estenda seu manto de odores e de terra vermelha. Um beijo da Bahia-de-Todos-os-Santos.

Métrica
Foda-se. Tou-te a ver, não penses que me enganas! Tou na fase da sopa Knorr. Paulinho se ela não TOC põe-lhe os remédios no shampoo.

Cavaleiro
Toc, toc, toc...

Patapata
Porque hoje é sábado... nunca se sabe.

17/04/08

Jueves


Engula a santa
A santa está enfeitiçada,
não há quem desenguiçe
meu pai Luango valei-me
trazei-me o que preciso
dá-me o que só tu sabes
dou-te a jóia
dá-me a paz!

No vermelho mesmo!


(a diferença é que me chateio menos)


MJC
Diz-me que em Portugal só passam na TV reportagens sobre o Movimento Nacional Feminino, ou sobre a Maçonaria...
O Grão-Mestre, de um Grande Oriente note-se, foi corajoso dizendo que os católicos não podem ser maçons. Entendo. O catolicismo não gosta de larguezas, aliás, nenhuma religião gosta da prática do Livre-Pensamento.
Ser maçon passou a ser, na Inglaterra do Imperio um sinal de ascensão social. Esta(incompatibilidade religiosa) é uma velha questão interna da Maçonaria: qual é a regular (Grandes Lojas) e qual é a irregular (Grandes Orientes). Não é uma questão que inquiete os maçons comuns. O que interessa é o VITRIOL e trabalhar a pedra bruta... quando assim é, nascem países como a Bolivia, o Brasil, os Estados Unidos, reconhecem-se compositores como Mozart, Haydn, Wagner e poetas como Pessoa, Castelo Branco, Quental entre tantos outros.
A pedra... tratem da pedra.


Patapata (quem dança com quem)
Não vi Samantha Raio Laser. Deitei-me em casa às 21h30. Hoje vou ao Bossa-Nova no Largo da Mariquita.


Para a mulher a quem estão a cair as sobrancelhas: Antes isso do que ter o cu como uma alcachofra, dixit o Lascado de Itabuna

16/04/08

Quarta-feira dia de Luango

M'espanto às vezes, outras m'avergonho...
(Sá de Miranda)


Natalie d Éssay e Juan Diego Florez
A melhor Fille du Regiment de Donizetti em Nova York no final do mês. No tempo do Império o conde ia, agora, viva o bacalhau e nem esse... http://www.youtube.com/watch?v=WAXSiHbLfEM


Casa do Bento
Uma casa portuguesa concerteza
- Está lá mãezinha, como vai? - perguntou ele com pronúncia brasileira
- Meu querido, a mãezinha tem muitas saudades - respondeu ela de imediato.
- As tias estão bem, a saúde da mãe como está? Está tudo bem? - Indagou ele como é da praxe.
- Olha, tenho uma notícia muito triste a dar-te - anunciou com voz grave - o vizinho de baixo, o João, está preso, imagine-se, preso!
- Preso? Porquê? - Perguntou incrédulo.
- Branqueamento de capitais - respondeu ela.
- Dizem que lavava dinheiro. Que vergonha, uma pessoa presa, e do nosso prédio. Enxovalha toda a gente que aqui mora e se vê envolvida nestes falatórios.Eu bem que desconfiava quando descia do quinto para o quarto andar e via um patinho em loiça à porta de casa. Aquilo devia ser o sinal para avisar que ali era a casa onde se lavava o dinheiro. A mim nunca me enganou. O que me intriga é que o pato ainda lá está e não há ninguém em casa. Eu agora nem lá vou com medo que me vejam ao pé do patinho.

Patapata (quem dança com quem)
Domingo é dia de Originaly - um bar ao ar livre em Patamares. Todas as fufas e as cabeleireiras de Salvador vão lá dançar. Das 19 às 23 horas o ambiente é animado pelas "Cachorronas", uma banda que canta desde ABBA até Axé e Pagode. Fui só. Dancei até desengonçar as cadeiras. Voltei para casa... leve, não fosse uma hamburguer no caminho, que arrasou com a queima de calorias.

Quarta-Feira
a ver se hoje consigo ver a Samantha Raio Laser a imitar a Mariene.

Subway
Uma loja igual a qualquer outra no centro de qualquer cidade. Hoje em dia preciso fazer uma graduação para comprar numa loja de fast food. Assim que entras a vendedora gutureja:
- Próximo.
Vencida esta batalha ela pergunta:
- Promo combi, 15cm, molho e cookie?
- O quê? - respondi eu.
Olhou-me como se fosse alien, branco, gringo diminuido por não saber comprar numa loja tão chic.
- Moça - gaguejei eu - quero uma sanduiche vegetariana.
- 15 ou 30?
- 41 - retorqui.
Ainda foi pior, ela não entendeu a piada e disse que só tinha sanduiches até 3o cm, mais do que isso tinha de falar com o gerente, mas não era promoção concerteza.
- 300 ou 500? - continou.
- O quê? - perguntei.
- O tamanho da bebida.
Porra estava estafado. Não volto lá sem levar a Zitinha que entende este linguajar.

Abril
Em Portugal águas mil, mas na Bahia também chove um barril ou outro. Mês de luas e de mudanças profundas. O Terreiro de São Jorge faz 60 anos e o dono da casa, Gongombira, vai ser cultuado numa grande festa popular.

Mães, quero ser doutor
Depois dou notícias.

Querida, se as sobrancelhas te estão a cair vem à Bahia que aqui é só filhoses, e vais ver que te fazem bem, orelhas de abade, cosocorões, fritinhos de abóbora, línguas de gato, enfim, uma panóplia de fritos diversos.

11/04/08


A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite, a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora
A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite e a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora
O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou
O samba não vai morrer
Veja o dia ainda não raiou
O samba é o pai do prazer
O samba é o filho da dor
O grande poder transformador
Caetano Veloso


Patapata (quem dança com quem)
Terça-feira, estava para ir ver Samantha Raio Laser que imita a Mariene de Castro no beco dos artistas. A meio do show faz um dueto com a avó... Enganei-me no dia e horário e cochilei no bar... estou velho. Noite de Quinta, fomos comer manissoba e escutar bossanova. Bossanova é para mim um samba de roda dos meninos de apartamento, filhos de papai, mas ainda assim bonito. Foi uma noite agradável, descontraida na associação presidida por Padre Alfredo, um corajoso jesuita que assumiu o seu relacionamnento homosexual e se desclaustrou. Celebraremos uma missa "de angelis" em breve. Noite de sexta... babalotim e logo se ve onde se dançará. Só me interessam lugares com gente simples e divertida. Nada de sofisticação e classe A, que aqui é da pesada. Um porre.

Casa do Bento
Uma casa portuguesa concerteza
- Estou, Mãezinha, é o Paulo.
- Filho, está aqui muito frio. Ninguém se preocupa com os velhos. O frio mata as pessoas dentro de casa. Deviam dar um subsidio para a luz.
- Mas a mãe tem sempre as janelas abertas - retroquiu ele.
- Se telefonaste para desconversar, não vale a pena gastares dinheiro.

10/04/08

Ai Bahia, Bahia-de-Todos-os-Santos


Katinguelê, Katinguelê
Katinguelê, Katinguelá
Quem não tem cabelo
Não carrega trança
Quem não tem amor na Bahia
Não manda lembrança
Katinguelê, Katinguelê
Katinguelê, Katinguelá


«Nós somos todos quem nos faz a História»
[Fernando Pessoa]

Lindo, fúnebre e solitário são três adjectivos que Maria Filomena Mónica usou para descrever Dom Pedro, o quinto deste nome, que reinou em Portugal de 1853 a 1861. Esperava, com ânsia, esta biografia, apesar de vir das mãos de uma socióloga de formação e não de um historiador. Nestas coisas sou, cada vez mais, um purista. Mas, dado que tinha gostado e continuo a gostar do trabalho de MFM sobre Eça de Queirós, punha grandes expectativas no trabalho sobre o rei que mais admiro na História de Portugal. Fiquei francamente desiludido. Longe do trabalho de análise de José Mattoso sobre Afonso Henriques, Maria Filomena Mónica conduz, com mestria - não há dúvida disso - um longo discurso sobre a época da Regeneração; período em que Dom Pedro teve a sorte de nascer e reinar, mas quando se dirige ao monarca, sua personalidade e acções, dá constantemente uma no cravo e outra na ferradura. Ela própria tem o bom senso de avisar no prólogo, ao dizer que a sua «visão de D. Pedro mudou ao longo do tempo, mas isto aconteceu - o que é estranho - de uma forma não linear.
Não passei de um dia para o outro da tese de D. Pedro ser um monarca petulante, pérfido e funesto, para a concepção de que, pelo contrário, fora um rei romântico e honesto» (p. 8).
Grande parte do livro é dedicado a avaliar as relações de D. Pedro com Fontes Pereira de Melo, o «ídolo» de Maria Filomena Mónica, e à medida que o primeiro vai perdendo a confiança no segundo, também a autora vai desenhando a impressão de um rei absolutamente cruel com aqueles que o serviam - em particular com o «pobre» Fontes que até modernizou o país e a quem o monarca dedicava profundo desprezo… a avaliação a preto e branco que M.F.M. não queria para esta biografia torna-se numa luta maniqueísta, entre o pedante príncipe e rei e o puro, simples e frugal Fontes Pereira de Melo, um suposto self made man que trouxe a Civilização ao país.
Outras vezes - menos vezes, porém-, MFM lá se rende à imagem do rei-belo, culto, profundamente entregue ao seu país e a um trabalho inglório de intervenção régia no recém implantado sistema partidário nacional - inglório porque D. Pedro («mais coburgo do que Bragança», como a própria autora refere numa miserável conclusão que deslustra a obra inteira…) nasceu no sítio errado, no tempo errado. O que não deixa de ser verdade, mas não tira qualquer mérito a este monarca de cristal aprisionado num castelo de areia que era o Portugal de meados de oitocentos - não muito diferente, aliás, do país de hoje: corrupção, uma nobreza ociosa e profundamente boçal, um povo indolente e incapaz constituiam a amálgama social da época.
D. Pedro enchia os ministros e o Paço com anotações e memorandos. Lia tudo, queria saber tudo, queria dar opinião sobre tudo. Era um obcecado, disso não há dúvida. E um incompreendido. Escarnecia do país, mas, ao mesmo tempo amava-o, sem que o fatalismo e incapacidade de tudo resolver, lhe deixassem assumir a função de salvador da pátria.
Mas a dimensão do rei é mensurável, sobretudo, pela leitura das cartas que trocou com o seu tio Alberto, marido da rainha Vitória. Textos absolutamente bem redigidos com observações que ainda hoje são actuais. Se há algum defeito a imputar a Dom Pedro V, tal defeito será o da impaciência.
Recusar-se a adequar a sua personalidade ao seu tempo e à dos débeis homens que o rodearam teve como paga a morte precoce. Não deixou de ser, efectivamente, e como MFM o adjectiva, «lindo, fúnebre e solitário» - para mim qualidades que assentam bem num monarca

08/04/08

A Zitinha escreveu o seu primeiro poema de amor. Telefonou-me, jurou-me inumeras vezes que não estava apaixonada e leu-mo. Fiquei com os olhos rasos de água. Cresceu. Está linda a crescer.

Gula Santa
Precisamos de alguém que engula a santa toda.

Patapata
Pequeno pente que se prende num elástico na palma da mão e serve para pentear o cabelo curto carapinha,normalmente de pele negra. Uma rubrica que incluirei no blog para narrar as aventuras de dança na Bahia.

A Casa do Bento
Marquei o numero de telefone de Portugal.
A mãe atendeu:
- Filho - gritou. [Ela acha que quanto mais longe se esta mais se precisa gritar, afinal, em Estremoz pedia-se a interurbana à menina Alice, e era preciso esperar e gritar. Oh, como se gritava!]
- Estou óptima, graças a Deus - continou sem ele lhe ter perguntado nada - fui à missa aos Jerónimos, não oiço nada do que o Padre diz mas gosto da igreja, depois fui com a tia Leonor almoçar ao Porto Brandão e de seguida para a EXPOR. Sempre se apanha sol e já sabes que a mãe gosta do teleférico, ó que diabo se chama aquilo. Isto aqui está muito mal ,até aumentaram o iva para 20%....
- Está tudo bem de saúde? - indagou ele, como faz todos os domingos.
- Também acho, rude muito rude, é bom primeiro-ministro mas muito rude, mudou a hora, e vai-se andando.

Rua da Liberdade
Gostei tanto de vos ver e de estarmos juntos... aprendi convosco que ainda estamos a tempo...


Métrica
Amiga, TOC, TOC... toma os comprimidos!


Escrita em baianês
Tou quase baiano! [Consulte o glossário no final do texto.]
Certa feita, saí cedinho de casa prum falapau na casa de meu amigo Muriçoca, lá no fim de linha do Pau Miúdo. Tava o maior auê no ponto de ônibus. Gente como a porra, uma renca de menino oferecendo geladinho(6), um esmolé cheio do pau abusando todo mundo, vendedor de rolete gritando feito a porra, e os garotos vendendo menorzinho no quente-frio colorido. De junto de mim, um cabo verde todo enfatiotado passava a patapata na cabeça, enquanto que defronte a filha da baiana do acarajé, uma menina cheia de pano branco, mastigava um cacetinho. Eu já tava ficando retado, porque já fazia uma hora de relógio que a zorra do buzu não passava. Aí a arabaca chegou, cheia como quê. Tive que entrar a pulso, mas pra tomar uma eu faço qualquer coisa, e na paleta é que eu não ia. Aporrinhado, fui me espremendo lá pra frente e consegui passar pela borboleta. Num daqueles freios de arrumação, fiquei de pau duro, fazendo terra num graxeiro bem moderninho, toda empiriquitado, mais enfeitado que jegue na Lavagem do Bonfim. Ele tinha uma inhaca, que misturada com o espanta nigrinha que usava, me causava um certo entojo. Mas eu, que faço terra desde o tempo de dom corno, não ia vacilar. «É hoje que eu vou lavar a jega» - pensei. E fiquei ali, mal sabendo o esparro em que eu ia cair. É que daí a pouco o motorista deu outro freio de arrumação e eu me desapartei da tribufuzinha e me encaixei num negão tipo segurança do Olodum. Tá rebocado: eu pensei que ia bater a caçuleta. O negão virou e fez: «Qualé meu irmão? Tá procurando frete comigo, é? Eu lhe dei ozadia por acaso?» Resultado: levei um cachação que doeu como corno, e fui parar lá na casa da porra. Foi o maior mangue dentro do buzu. Enquanto eu me lenhava, ouvia o povo dizer: «Pique a porra nesse chibungo, ôôôôxe, tem mais é que estabocar com este sacana mesmo.» No meio daquela zuada toda, resolvi tirar o corpo e na primeira sinaleira em que o buzu parou eu me piquei. Jurei que nunca mais entro em carro com enxame de gente. Quanto às fubuias, tive que infonar, mas de hoje a oito possa ser que eu passe lá. Só que na próxima vez vou pedir a um taquiceiro pra me levar, que eu não sou menino nem oreba pra ximbar de novo.

Glossário:
Falapau: ;
Muriçoca: mosquito;
Pau Miúdo: bairro;
Auê: confusão;
Renca: grupo;
Geladinho: refresco congelado dentro de um saco plástico;
Esmolé: (esmoler), pedinte, mendigo;
Cheio do pau: bêbado;
Rolete: pedaço de cana;
Menorzinho: café pequeno;
Quente-frio: garrafa térmica;
Cabo verde: indivíduo de pele escura e cabelos lisos;
Enfatiotado: bem vestido;
Patapata: espécie de escova de cabelo;
Defronte: em frente;
Cacetinho: pão francês, bisnaga;
Retado: aborrecido, com raiva;
Hora de relógio: hora exata;
Buzu: ônibus;
Arabaca: veículo muito velho;
Tomar uma: beber (principalmente cachaça);
Na paleta: a pé;
Aporrinhado: chateado, aborrecido;
Borboleta: catraca;
Fazendo terra: roçando o órgão sexual em outra pessoa;
Graxeira: empregada doméstica;
Empiriquitada: bem vestida;
Jegue: burro;
Nigrinha: pessoa desqualificada;
Entojo: enjôo;
Tempo de dom corno: antigo;
Lavar a jega: se dar bem;
Esparro: situação desagradável.
Tribufuzinha: ;
Tá rebocado: ;
Caçuleta: ;
Frete: ;
Cachação: ;
Como corno: ;
Casa da porra: ;
Mangue: ;
Lenhava: ;
Pique a porra: ;
Chibungo: ;
Estabocar: ;
Zuada: ;
Sinaleira: semáforo;
Me piquei: fugi;
Fubuias: ;
Infonar: ;
De hoje a oito: ;
Taquiceiro: ;
Oreba: ;
Ximbar: ;

07/04/08

Enxergar