08/10/07

Meu velho...

Está previsto para Outubro deste ano (2007) , o lançamento de “Exit Ghost“, o último romance de Philip Roth. O mesmo “fantasma “ que surgiu pela primeira vez na sua obra em “The Ghost Writer”, publicado em 1979, vai finalmente desaparecer de cena. Pelo menos é o que afirma o seu criador.Preparemo-nos, então, para a última aparição da célebre personagem - e alter ego de Philip Roth - Nathan Zuckerman, o qual, com uma idade avançada, voltará a Nova Iorque depois de vários anos de afastamento e de quase clausura. A expectativa que rodeia este acontecimento - a realidade e a ficção confundem-se - funciona como alibi para passar em revista a vida e obra deste escritor norte-americano que, tanto provoca as maiores laudas - já recebeu todos os prémios possíveis menos o Nobel que lhe é inteiramente devido - como é confrontado com acusações de misoginia e arrogância. Homem, heterossexual, norte-americano e judeu, Roth é um dos mais importantes escritores contemporâneos, senhor de um imaginário muito próprio que conjuga, na perfeição o sentido de comicidade, ironia e autocrítica de Woody Allen com a tortuosa herança existencial de Kafka. Quem tem acompanhado de perto a sua obra ao longo das últimas décadas ficará com uma excelente ideia da evolução da sociedade americana e da psicologia de um povo. Como bónus terá uma perspectiva abrangente, marcante e desapiedada das sucessivas idades de um homem, uma vez que o autor não se coíbe em retratar, com detalhes que vão do cómico ao escatológico, as suas próprias experiências de vida. Mas atenção: os romances de Roth não são estritamente autobiográficos e ele consegue, como escritor, facultar uma perspectiva bem nítida da intemporalidade e universalidade das suas personagens. Basta ler ou reler a sua mais recente obra “Everyman” (2006) para perceber que ele se dedica a dissecar o ser humano em toda a sua grandeza (quando esta existe), miséria(s) e banalidade. Foi Martin Amis que disse que Philip Roth é um escritor de romances autobiográficos que escreve sobre a escrita de autobiografias, o que explica muita coisa em relação à vida, às preocupações e as angustias do autor.Roth tornou-se (muito) famoso quando saiu o seu livro “O Complexo de Portnoy”, em 1969. Não era um desconhecido visto que “Goodbye Columbus”, escrito dez anos antes, uma colectânea de contos mais uma novela que acabou por ir parar ao cinema, teve um relativo sucesso. Mas foi com a figura de Alexander Portnoy que Roth passou a ter um estatuto especial, juntamente com autores judeus do mesmo calibre, como Saul Bellow e Norman Mailer.Philip Roth nasceu em Nova Iorque, Newark, em 1933. Segundo o seu próprio relato em “Patrimony”, o avô Roth estudou para ser rabino na sua Polónia natal mas emigrou para a América em 1897, sozinho, deixando para trás a mulher e três filhos. Empregou-se numa fábrica de chapéus e aí trabalhou duramente para conseguir mandar vir a família que aumentou logo de seguida. Em 1914 os irmãos já eram sete. O pai de Philip, Herman, era vendedor de seguros e a mãe, Bess, tomava conta da casa e dos filhos. Estiveram casados durante cinquenta e cinco anos, até ela morrer de um AVC que deixou o pai do escritor inconsolável. Roth estudou na Bucknell University e na University of Chicago e começou a sua carreira a ensinar na prestigiada University of Iowa - berço de inúmeros escritores célebres que frequentavam as aulas de “creative writing” - e mais tarde na não menos famosa Princeton University. Em Chicago conheceu o escritor Saul Bellow, de quem se tornou amigo, que lhe apresentou a sua primeira mulher, Margaret Martinson. Estiveram casados dois anos, tendo-se divorciado em 1963. Margaret ( a quem Roth chamava “macaca” e que morreu em 1968 num acidente de viação) passou a fazer parte da galeria de personagens da obra “rotheana“. Em “My Life as a Man” - um retrato quase fiel do seu casamento - e em “O Complexo de Portnoy” algumas das figuras femininas basearam-se em Margaret. As feridas abertas pelo divórcio não chegaram a sanar, deixando Roth com um permanente sentimento de frustração e culpa. Ainda de acordo com o seu romance pseudo confessional “Operação Shylock” de 1993, Roth teria sofrido um esgotamento nervoso nos finais dos anos oitenta. Mas depois começou a viver com a actriz inglesa Claire Bloom com quem casou em 1990, tendo-se divorciado cinco anos depois. Bloom, depois da separação, publicou um livro - “Leaving a Doll´s House” - sobre a sua experiência como actriz e onde fazia “revelações” que não abonavam nada a favor do ex-marido. Bloom, que parece ter ficado subjugada pelo encanto de Roth, acusa-o no entanto de profunda misoginia e de viver fixado nas duas obsessões que atravessam todos os seus livros e que o próprio Roth diz serem o motor da vida dos americanos: o sexo e o dinheiro. É provável que Bloom tenha razão - embora no livro se mostre uma mulher queixosa e muito centrada em si própria - mas a verdade é que Roth, à custa de quem o sempre tem rodeado, conseguiu criar, em ficção, um universo que é bem real. Em resposta à ex-mulher, Roth escreveu “Casei com um Comunista”, uma sátira feroz - mais uma - que aproveita o absurdo da era MacCarthy e da sua “caça às bruxas” para mostrar outro dos lados negros da América, com toda a sua hipocrisia e pseudo moralidade. É preciso lembrar que a relação de Philip com as mulheres é complexa, difícil e conflituosa. Se por um lado elas são, obviamente, uma fonte inesgotável de desejo e um caudal infinito de prazer(es), por outro, são a causa de todas as desgraças, a razão da “queda” dos homens. Tudo porque, ainda de acordo com o escritor, são elas que mais preservam e impõem as normas de conduta e as regras sociais vigentes, o que entra em conflito directo com as “aspirações masculinas de liberdade”.O que vale a Roth é que ele possui um invejável sentido de humor. Basta começar por ler “ O Complexo de Portnoy”, o seu quarto romance, onde o escritor deu largas à sua verve desenfreada, brutal e hilariante. Trata-se da história de Alexander Portnoy, um jovem advogado nova-iorquino que passa o livro a confessar-se ao seu psicanalista, o (tornado) célebre Doutor Spielvogel, autor de textos científicos como “O Pénis Perplexo”. O leitor desprevenido será imediatamente alertado pela epígrafe que explica: “ O Complexo de Portnoy: uma perturbação que leva quem dela sofre a um perpétuo conflito entre fortes impulsos altruístas e de natureza ética e um desejo sexual extremo, muitas vezes de origem perversa.” Alexander relata com todos os pormenores a sua fixação pela mãe dominadora, Sophie, a sua tendência compulsiva para a masturbação e outros detalhes da sua intensa vida privada, dominada pela imprevisível e tirânica testosterona. Roth explora aqui a diferença e o atrito que resulta entre o que é básico e natural no ser humano e aquilo que, depois, devido aos preconceitos e tabus de uma sociedade, transforma a vida de qualquer mortal num inferno. Valeria a pena reler, agora, este livro que surgiu como uma bomba numa América dilacerada entre a Guerra do Vietname - e a defesa da sua legitimidade por parte da ala mais conservadora - e os movimentos hippies e pacifistas dos finais dos anos sessenta.Conflitos como este irão ser o mote de Philip Roth ao longo da sua vida e da sua carreira, à medida que explora as suas vivências em relação ao sexo, às relações com as mulheres, à velhice e à morte. Nada escapa ao seu olhar escrutinador, fatalista e satírico. A vida é uma farsa bem apanhada que vale a pena ser vivida, apenas para ser denegrida e exaltada em igual proporção. De Portnoy, que se dedica quase a tempo inteiro às alegrias ( e tormentos) das pulsões eróticas mais desenfreadas até ao herói do seu antepenúltimo livro, o conto moral de inspiração medieval “Everyman”, onde um hipocondríaco acaba por morrer de velho (evidentemente), o autor confessa-se directamente ao seu público. Ele foi, sempre, esse Nathan Zuckerman, uma personagem ficcionada que se parece intimamente com o seu criador e tal como ele, é um judeu de Newark que escreve um romance “Carnovsky”, cuja acção e personagens são directamente inspiradas pela sua própria família e amigos e que se revela imediatamente um sucesso fulminante. Nathan ganha uma fortuna e torna-se uma celebridade que todos querem conhecer, uma espécie de Pop Star com direito a todas as mordomias. As mulheres perseguem-no até à cama e ele casa com três delas, em rápida sucessão. O mundo sorrir-lhe-ia se não fosse a o facto de ter toda a família, vizinhos e conhecidos numa feroz campanha contra ele, uma vez que se sentem prejudicados pela imagem retratada nos livros. Assim, o pobre Zuckerman irá continuar o curso dos seus dias numa luta perene entre as raízes, o passado e a sua cultura, isto é, a voz da sua consciência, versus a sua vida real, feita de excessos, abundância material e sexual e uma sede cada vez maior de dinheiro, mulheres e poder. Mas o que separa a sua personagem de outras semelhantes - como o John Self de Martin Amis em “Dinheiro“ - é que Nathan, como bom judeu, é um homem atormentado e consciente da inevitabilidade da morte e da passagem do tempo.


Ele é... Caco
Gosto dele. Tem um humor, que só eu entendo.É irrequieto, inteligente, mordaz, eléctrico.Sorri como ninguém. Conhece as cidades, cada praça, cada esquina.Ele é brilhantemente culto e sofisticado.Nunca é simples, mesmo quando finge sê-lo. Respira e dorme como a inquietude dos ventos. Sonha e teme. É insaciável como o mar. Bate nas ondas porque é persistente. É sinuoso como um rio... Como poderei dizer-lhe que a velhice o torna cada vez mais bonito.

Bahia em Outubro,
Calor que chega... Os negócios melhoram... a vida avança.Uffff, hoje já matei um leão.

Teco Fuma,que se te apanho tás lixado...

Tia São Inscreve o tô marido neste pograma.Tá?

1 comentário:

Paulo Morgado disse...

Que bonito, Paulinho. Lá fiquei outra vez de lagrimita no oilo :)
Que bonito cantares esse amor aos quatro ventos e dizer a toda a gente o homem lindo que é o teu Caco. Muitos, muito beijos para vocês.