11/10/06

IN MEMORIAM JOSÉ MADRUGA 1947-2006


CASTELO

Batemos 9 pancadas na porta do Templo.
-Quem ousa perturbar os nossos trabalhos?-perguntam com voz grave.
Trazemo-lo conosco,respondemos sem receio.
Reconheceram-nos, e as portas abriram-se.
Deixámo-lo deitado entre colunas.
Ele levantou-se e caminhou então, de Ocidente para Oriente,descalço,sentando-se com os outros que o antecederam debaixo da abóboda estrelada.
Ousamos então falar:

Ele era eloquente,
Ele era inteligente,
dedicado e discreto.
Ele tinha humor,
Ele enriquecia-nos.
Ele era calmo e conciliador,
livre-pensador
ouvinte e orador.
Ele era franco e gentil,
seguro e guloso.
Ele não conseguiu vencê-la,
mas ele voltará sempre,
nas nossas lembranças e risos,
nas nossas histórias comuns,
na nossa memória de riquezas partilhadas.
Ele era irmão,
Ele era mestre,
Ele era verdadeiramente Venerável.
O da espada levantou-se e conduziu-o.
Estava sorridente.
Sentou-se no seu novo lugar.
Os que ficámos deste lado do rio, a Ocidente do promontório da
Boa-Esperança, com compasso e o esquadro na mão dissemos-lhe ainda antes que a porta se fechasse:
Espera por nós nesse Oriente,
espera por nós nesse Oriente que é Eterno.
A porta bateu e o vigilante sentou-se.
O livro fora fechado.
Recomeçámos a puxar a barca...
Vamos ter saudades do Zé.


Renato M:.M:.
P:.V:.M:.

2 comentários:

Anónimo disse...

A saudade é algo que corroi, doi e machuca com vigor; todavia serve de conforto a alma quando não mais dispomos daqueles ou daquilo que antes nos confortava. A pior espécie, sem dúvida, é aquela passional omissa que sentimos quando deixamos de compartilhar pensamentos, atos e virtudes. Torga já referenciava a plenitude da virtude pela sabedoria compartilhada dos amigos, muitas vezes mitigando este sentimento com a perda, o hiato, a fisura que se cria quando não mais podemos soliciatar quem os preenche. Mas a vida é assim, com mais perdas que ganhos, e decerto o ser humano mesmo que emburrecido, ainda requer o sentimento de complacência com o outro.
É assim, e assim será. Gostaria de me perder, sabes, Lagarto, sim, perder-me desse labirinto mediocre da burrice baiana. Hoje não estou bem, a Bahia me fatigou, exauriu e corroeu minh'alma.
Mas nem tudo está perdido, há vcs!
Beijo grande,
Carlos Luiz

Anónimo disse...

Meu Querido Irmão Paulo
Deixa-me dar-te a palavra, bonita, que vem da prancha elaborada por um outro Irmão nosso:

"É meia-noite... a cadeia de união está quebrada... falta o nosso querido Ir:.John Steinbeck que está nas trevas.
Que as suas virtudes e memória sejam perpetuadas.
Soldemos a cadeia de união. O amor é mais forte que a morte.
Rompe o dia, o Sol mostra-se. É hora de renascimento...
John Steinbeck
John Steinbeck
John Steinbeck"

António Garcia dixit