12/03/08

Era vulgar

11 de Março 2008 e:.v:.
Há 10 anos saí de uma gruta no centro da terra. Três viagens fiz e outras tantas pedras encontrei. Procuro aquela especial, a filosofal. Sinto-a mas não a vejo, procuro-a, desejo-a, cheiro-a. Descobriram-me morto, ressuscitaram-me marcando-me com as acácias, obrigaram-me a caminhar dia-a-dia dentro de mim mesmo e a trilhar caminhos que já andei. As estrelas da abóbada são as minha únicas guias, caminho nas linhas entre o branco e o preto. Caminho no sentido do tempo, caminho num círculo, caminho devagar... mas caminho. Regem-me a régua e o compasso, acompanha-me a rainha da noite. Sei que de lá virá a Luz...

Still the only thing...
Desceram a colina de mão dada, jantaram à beira-mar virados para o Castelo velho e mal iluminado. Amaram-se desencalmados e o sabor que passaram de uma boca para a outra permaneceu. É o mesmo sabor, repetido tantas vezes, os mesmo abraços e olhares, os ciúmes e desalento, as vitórias, os obstáculos, os tormentos. A espuma traz-lhe novas vozes, abraços e cuidados. Juntos sabem que tudo vale a pena.

Estou em choque.

Quando era miúdo havia poucos automóveis de marca Mercedes em Lisboa. O mercedes era carro de gente rica ou de estado, pretos, normalmente, com motoristas fardados que impunham um respeito e uma áurea digna da tradição prussiana donde provinha a marca. Com a Revolução dos Cravos extinguiram-se os Mercedes restando apenas a conhecida Mercedes, mas desta feita, Balsemão. Era a única. Primeira dama, mulher de um primeiro-ministro que antes de o ser já era rico. Hoje esta puta desta cidade tem Mercedes em todo o lado. Ele há-os com todas as letras: classe A,B,C,D,E a que se juntam os xpto, ddi, opt, fufufu, enfim, siglas para dizerem que o saloio que vai lá dentro tá cheio de papel... e como diz a minha mãe indignada: «compram carros destes, mas e a gasoil
Não há esquina, viela ou passeio que não tenha um mercedes de qualquer cor ou feitio. Até já os desenham tipo "acaralhados" para o dono poder dizer sem medo: «O meu é maior que o teu.»; «O meu é mais potente do que o teu» ou «o meu é mais caro do que o teu.»
Balsemão, Mercedes, volta que estás perdoada.

A casa do Bento
Piqueno apartamento junto ao Rio Tejo, com janelas amplas e luminosas... e também ventosas.

Episódio 1
Ele entra e beija a mãe.
Ela pergunta-lhe:
- Por onde andaste?
- Fui ao Chiado - respondeu ele.
- Onde?
- Ao chiado...
- Foste onde?
- Ao chiado - gritou, agora com um pouco mais de força.
- Estás para desconversar?
Acaba aqui a conversa.

Este pais não é para velhos...

Fui ao cinema ver o Bardem com MJC. O Filme foi quase à antiga, com intervalo e tudo, mas porra, duas horas meia para dizer o que se percebe na primeira meia-hora, ninguém merece.
Estamos sempre à espera que surja qualquer coisa nova, mas não. As tragédias sucedem-se. Ninguém pode nem consegue fazer nada. Ninguém compreende como é que se chegou àquele,(este) estado. Todos estão(são) espectadores. Deixem-me desabafar:
«Oh Javier, filho, andar com uma bomba de oxigénio desse tamanho só para rebentar umas fechaduras é mau para a coluna...»
Desilusão. (mais uma)

Casa do Vento
Episódio 2
A salona estava gelada.
- Mãe - disse ele - podemos fechar a fresta da janela?
- Estas casas ganham muito cheiro se não são ventiladas - retorquiu sem tirar os olhos da notícia da substituição de Camacho.
Ele levantou-se, foi até um dos quartos e embrulhou-se num cobertor de papa. Regressou à sala como se fosse um monge encapuçado.
Ela levanta-se de rompante e comenta:
- Já vi que estás para desconversar. Vou deitar-me.

Olivier, Café, boa comida, bons empregados, decoração comestível à excepção dos candeeiros que não se conseguem realmente engolir e muito menos cagar. Só não faz falta o Olivier, que não tem chama, nem tempero. Aqui.

República das Flores, linda. Só não é preciso levarem-na tão a sério. Não deixem lá o cu... senão ele vende-o.


Lisboazona... Beige,vou pintar o meu tecto de beige.

3 comentários:

Unknown disse...

ola! este post foi grande... gostei do poema... mas deu vontade de dizer " f... o paulo!" que ele ta a precisar ;) LOL

Gostei muitos dos dialogos do bento com a mae... pq nao publicá-los?

adorei os rebucados, mas o treino mental e físico, acrescido à minha religião não me permite comer mais... vou guardar para alguém que os vai devorar, aposta?

Anónimo disse...

Os diálogos do Bento com a mãe, são dignos de Almodovar.

Além do mais têm o realismo que tão bem conhecemos !!!!

Lagarta Pintada

Anónimo disse...

Parabéns a você... lai, lai, lai - como tu adoras. Desculpa ter-te acordado. Bjs, bom aniversário. [TS]