08/07/06

BEING JULIA?


Vi num final de tarde com o Caco e sem comer pipocas


A história propriamente dita é um soneto de amor pelo teatro e suas grandes actrizes, essas divas misteriosas e sedutoras cujo triunfo acontece nos palcos.
Bening, que fica igualmente à vontade no palco ou na tela, representa uma atriz desse tipo, em uma performance que exemplifica o que o filme quer mostrar e, ao mesmo tempo, ilustra a luta de uma estrela específica para conservar seu status de estrela.
Adorável Julia é baseado em Theatre, um dos romances curtos menos conhecidos do escritor W Somerset Maugham. Mesmo na época em que foi publicada, em 1937, faltava originalidade à história, que trata das crises da meia-idade e de romances sazonais, temas que já foram melhor cobertos em outras obras.
Assim, o autor do roteiro adaptado, Ron Harwood, não tinha muito com que trabalhar. O que ele e o diretor Istvan Szabo conseguiram criar, e muito bem, foi uma série de cenas extremamente teatrais e repletas de emoção que formam uma espécie de novela espirituosa sobre triângulos amorosos ou, neste caso, um quadrângulo.
Ao centro de tudo está Annette Bening como Julia Lambert, a estrela do West End londrino em 1938. Radiante no palco, o que significa tanto no teatro como na sociedade londrina, Julia, em seus momentos privados, permite que uma mulher durona, mas também vulnerável, transpareça por baixo da superfície brilhante.
Sua carreira é administrada por seu marido e empresário Michael (Jeremy Irons), cuja única outra justificativa para considerar-se famoso é a afirmação de que é um dos homens mais bonitos de Londres.
Mas a vida de Julia e Michael já virou um arranjo formado por carreiras paralelas, mas vidas separadas. Sentindo o passar dos anos na própria pele, Julia deixa um admirador ardente de metade de sua idade, Tom Fennel (Shaun Evans), arrebatá-la, mas então se esquece dos próprios princípios e apaixona-se de facto por ele.
Não demorará a deixar essa fraqueza de lado, porém, e encontra uma maneira óptima de virar a mesa, causando espanto a todos: seu amante, seu marido e a atriz astuta (Lucy Punch) que passa a ir para a cama com ambos, além de dividir o palco com ela, Julia. Ao mesmo tempo, Julia manobra até voltar a seu lugar favorito, que é o centro das atenções no palcos.
Com sua audácia, ela chega a conquistar o afecto do único homem que nunca se deixou iludir por ela, seu filho (Thomas Sturridge), que enxerga o que há por trás de cada uma de suas manobras.
Um toque de realismo mágico divertido permite que o fantasma do falecido mentor de Julia, seu primeiro professor de teatro (Michael Gambon, muito divertido no papel), entra e saia das cenas, tecendo comentários sobre a "performance" de sua pupila.
Quando o fantasma lhe diz que ela está exagerando na actuação ou nas lágrimas, o espectador não pode deixar de concordar com ele. Não é que Annette Bening esteja exagerando na actuação, mas que ela está representando uma diva de 1938.
A realidade dos palcos invadiu sua vida privada. Sim, aqueles risinhos constantes quando ela redescobre a juventude nos braços de um rapaz mais jovem são irritantes, mas condizem perfeitamente com o personagem.
O filme tem uma montagem muito bela, com a iluminação atmosférica criada pelo director de fotografia Lajos Koltai para as cores ricas e agradáveis dos cenários de época criados por Luciana Arrighi.
A trilha sonora de Mychael Danna é antiquada no melhor sentido possível: ela ocupa o pano de fundo, mas, ao mesmo tempo, deixa transparecer o romantismo da vida mítica do teatro da época.

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